terça-feira, 21 de junho de 2011

MENTE E CONSCIÊNCIA

Olhamos para a consciência como coisa garantida porque é tão disponível, por ser tão simples de usar, tão elegante nos seus aparecimentos e desaparecimentos diários. No entanto, todas as pessoas, cientistas incluídos, ficam perplexas ao pensar em tal fenómeno. De que é feita a consciência? Parece-me que terá de ser a mente com algumas peculiaridades, visto que não podemos estar conscientes sem uma mente da qual podemos ter consciência. Mas de que é feita a mente? Virá do ar ou do corpo? As pessoas inteligentes dizem que vem do cérebro, que se encontra no cérebro, mas a resposta não é satisfatória. Como é que o cérebro faz a mente?
Especialmente misterioso é o facto de ninguém ver a mente dos outros, conscientes ou não. Podemos observar-lhes o corpo e o que fazem, dizem ou escrevem, e podemos opinar com algum conhecimento quanto àquilo em que estarão a pensar. No entanto, não podemos observar-lhes a mente e apenas nós próprios somos capazes de observar a nossa, a partir do interior, e através de uma janela bem estreita. As propriedades da mente, já para não falar da mente consciente, apresentam-se de uma forma tão díspar daquelas da matéria viva visível, que as pessoas atentas se interrogam sobre a forma como um processo – a mente consciente – se funde com os outros processos – as células vivas que se unem em aglomerados a que chamamos tecidos.
Claro que dizer que a mente consciente é misteriosa, que o é, não é o mesmo que dizer que o mistério é insolúvel. Não é o mesmo que dizer que nunca seremos capazes de entender como um organismo vivo dotado de cérebro desenvolve uma mente consciente ou declarar que a solução do problema se encontra fora do alcance do ser humano.

DAMÁSIO, António, O Livro da Consciência - A construção do cérebro, consciente, 2010. Lisboa: Temas e Debates / Círculo de Leitores, pp. 21-22

terça-feira, 24 de maio de 2011

"Depressão não é uma doença"

 "A depressão não é uma doença" e não existem medicamentos com uma acção antidepressiva. A afirmação controversa – no mínimo – pertence a Carlos Lopes Pires, psicólogo e membro da Unidade de Investigação e Intervenção em Psicologia (UNIIPSI). O clínico vai mais longe. No seu livro, subordinado à desmistificação de crenças ligadas à depressão, psicofármacos e seus efeitos, refere estudos científicos que estabelecem uma ligação directa entre o aumento do número de suicídios e a prescrição de antidepressivos.
Carlos Pires considera que "o antidepressivo dá a energia e a benzodiazepina [o chamado "ansiolítico"] dá a calma para cometer [o suicídio]", referindo-se aos "cocktails" farmacológicos tantas vezes prescritos.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Definição da agressividade na infância

A agressividade em psicopatologia define-se como:

a) “conduta intencionalmente dirigida a provocar lesão ou destruição de um objectivo (pessoa, animal ou objecto)”;
b) agressões físicas ou verbais contra os demais (ameaça, empurrões, dirigir-se aos demais com insultos ou gritos);
c) agressões contra objectos (quebrar ou atirar objectos ao chão, dar pontapés);
d) auto-agressão (bater com a cabeça, arranhar-se, fazer pequenos cortes em si mesmo).
Todas estas definições podem formar uma possível classificação de comportamento agressivo.
Actualmente e seguindo a classificação estatística dos transtornos mentais da academia americana de psiquiatria (DSM-IV, 2000), este comportamento não se considera por si mesmo uma entidade patológica, mas a parte de um conjunto de sintomas de numerosos transtornos tais como o transtorno anti-social, a esquizofrenia, o autismo, o atraso mental e o transtorno do défice de atenção e hiperactividade.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O nosso bisavô de Viena

 (…) Os 150 anos do nascimento do nosso bisavô de Viena, Sigmund Freud, médico psiquiatra, fundador da Psicanálise, deram origem a múltiplas celebrações e polémicas. A austera figura de Freud voltou – se alguma vez deixou de estar – ao centro de debates que transbordam dos circuitos de especialistas para chegarem ao "grande público". A questão da sexualidade, associada ao nome do pensador de Viena, faz do seu legado tema apelativo. Especialistas e leigos, amigos e inimigos defrontam-se, de novo, em palcos de discórdia, sobre a validade científica e a actualidade do contributo freudiano.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A integração da natureza (inato) e do cuidado (adquirido) - A proposta de Anne Anastasi

Anne Anastasi começa a sua discussão dizendo-nos que o modo como esta dicotomia, a dicotomia entre natureza/cuidado, inato/adquirido se manteve, e mantém, presente em muitos debates e teorias psicológicas se deve em parte às questões que têm sido colocadas pelos autores e investigadores. É frequente, e foi mais frequente ainda no passado, encontrar autores que, buscando respostas para a compreensão e explicação do comportamento humano, recorriam à pergunta “qual?”, orientavam a sua pesquisa de forma a tentarem saber qual dos dois pólos explicava e iluminava a compreensão do comportamento humano. Ao perguntarem "qual?" tais autores encontravam-se imediatamente a assumir os dois pólos como independentes, a assumir que era ou um ou outro o que influenciava o comportamento num ou noutro sentido, que o modo como os indivíduos são ou se comportam se deve a efeitos ou da natureza/inato ou do cuidado/adquirido. Por exemplo, quando se procura explicar o resultado num teste de inteligência, ou de um teste de aptidões, interpretando-os a partir dos resultados obtidos pelos pais ou irmãos (interpretando-o como sendo determinado pela herança genética), ou se procura explicá-lo apenas pela idade (e a maturação do indivíduo); mas também quando se procura explicar o comportamento mais ou menos agressivo de alguém com apenas no facto de viver numa zona onde a violência faz mais ou menos parte do quotidiano, ou no facto de considerar que em algumas situações a agressão é uma resposta legítima, ou por ter visto demasiados filmes e desenhos animados violentos na televisão...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A ADOLESCÊNCIA

A adolescência é uma época da vida humana marcada por profundas transformações fisiológicas, psicológicas, pulsionais, afectivas, intelectuais e sociais vivenciadas num determinado contexto cultural.
Mais do que uma fase, a adolescência é um processo com características próprias, dinâmico, de passagem entre a infância e a idade adulta.

“Nós rejeitamos a ideia comum de que a adolescência é exclusivamente uma preparação para a vida adulta… os adolescentes são pessoas com qualidades e características específicas, que têm um papel interventivo e responsável a desempenhar, tarefas a realizar e capacidades a desenvolver, num momento particular da vida”.
Konopka, G., citada por Sprinthall e Collins, op. cit., p. 93

quinta-feira, 24 de março de 2011

A sexualidade humana

Entrevista com Jean Didier Vincent, professor no Instituto Universitário de França e director do Instituto Alfred Fessard. É autor dos livros La Biologie des Passions e La Chair et le Diable (Ed. Odile Jacob, 1994).
“Em que é que a sexualidade humana diverge da sexualidade animal?

quinta-feira, 17 de março de 2011

Falta de sono e emoções

Segundo o estudo, a privação de sono "desliga" a região do lóbulo pré-frontal, que normalmente mantém as emoções sob controlo, provocando nos centros emocionais do cérebro uma reacção exagerada a experiências negativas.
O novo estudo da Escola Médica de Harvard e da Universidade da Califórnia, em Berkeley, é o primeiro a explicar ao nível neuronal o que parece ser um fenómeno universal: que a perda de sono conduz a um comportamento emocional irracional, de acordo com os investigadores.
A descoberta pode também oferecer algumas explicações clínicas para a relação entre as interrupções de sono e alguns problemas psiquiátricos, podendo ajudar com novos mecanismos para tratar estas desordens ao nível cerebral.

sexta-feira, 11 de março de 2011

My Fair Lady

      My Fair Lady é um sublime e irresistível clássico de George Cukor, inspirado na peça Pygmalion de George Bernard Shaw.
     Este belo musical representa a transformação de uma vulgar vendedora de flores, Eliza Doolitle, numa verdadeira duquesa da sociedade londrina, através dos ensinamentos do Professor Higgins. Este processo concretiza-se, num permanente espelho de expectativas e auto-realização de profecias, enfatizando a importância dos estímulos motivacionais, da valorização e enaltecimento das qualidades e competências, para se atingir desenvolvimento e desempenho até a um progressivo estádio de perfeição.   
    

quinta-feira, 10 de março de 2011

O CONDICIONAMENTO OPERANTE

O condicionamento operante, também designado condicionamento instrumental, envolve o uso de recompensas e punições para mudar o comportamento de uma pessoa. Este é o tipo de aprendizagem que Mischel considerava estar envolvido, por exemplo, na aprendizagem do género. Os princípios básicos são os seguintes:

CRASH

   As transformações ocorridas na sociedade, ao longo dos últimos anos, demonstram que o mundo se tem tornado pequeno para as relações humanas. Actualmente, já «conhecemos» todos os cantos do planeta, sem sair da nossa própria casa, pois com o desenvolvimento das técnicas de informação e comunicação ir de uma ponta à outra do globo não é coisa impossível.
   O filme «Crash» também nos remete para os paradigmas da globalização, do multiculturalismo, assim como para as noções de identidade e direito e para alguns temas polémicos do nosso próprio quotidiano, nomeadamente o racismo, a xenofobia, o confronto entre várias culturas e religiões… A globalização, a aculturação intensifica o encontro entre diferentes culturas e faz emergir estes grandes problemas que continuam a afectar a nossa sociedade actual sendo, por vezes, motivo de grandes conflitos e/ou guerras.

quinta-feira, 3 de março de 2011

PERTURBAÇÕES DA MEMÓRIA

As perturbações da memória mais frequentes têm origem em problemas orgânicos – em resultado, por exemplo, de traumatismos cranianos ou acidentes vasculares cerebrais. Acontece também serem uma característica do estado de demência.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

KRAMER VS. KRAMER

Este drama norte-americano de Robert Benton, inspirado no romance de Avery Corman, reflecte de uma forma tocante e magistral a dor da separação, desenha conflituosas relações familiares, focando essencialmente ligações profundas entre pai e filho.   
    Na cena inicial, emerge Ted Kramer, descontraído mas completamente absorvido pelo seu mundo publicitário de trabalho, dirigindo-se para casa. Este é surpreendido, quando Joanne Kramer, sua esposa, anuncia serenamente, que o vai abandonar, juntamente com o filho, Billy de seis anos. A opção de Joanne denuncia a sua infelicidade com a relação predominante entre ela e Ted, ansiando descobrir os seus próprios interesses e uma posição no mundo. Subentende-se que esta relação primava pelo distanciamento emocional, afectivo, reduzida preocupação e disponibilidade no que toca à esfera familiar, por parte do seu marido, bem como a sua incapacidade de lidar com os sentimentos de Joanne.
   

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Uma perspectiva e metodologia inovadoras

Uma das críticas mais veementes feitas por Bronfenbrenner à forma tradicional de se abordar o desenvolvimento humano é o facto de os estudos que as suportam terem sido feitas “fora do contexto”. Em 1977, este autor afirma “essas investigações focalizavam, somente, a pessoa em desenvolvimento dentro de ambiente restrito e estático, sem a devida consideração das múltiplas influências dos contextos em que os sujeitos viviam”. 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Crianças são mais agressivas entre o primeiro e o quarto ano de vida

Um estudo canadiano revela que é entre o primeiro e o quarto ano de vida que se verifica o maior índice de agressividade nas crianças, antes de estarem expostas a factores como a violência televisiva. O estudo, realizado por Richard Tremblay, da Universidade de Montreal, Canadá, contradiz a crença geral que aponta a adolescência como a altura em que as crianças são mais agressivas.

Tremblay procurou saber se a violência é ou não uma componente intrínseca do ser humano, incidindo a sua investigação na forma como a interacção da genética com os factores ambientais contribuem para desencadear comportamentos agressivos ou anti-sociais
As conclusões assinalam que o maior índice de agressividade nas crianças se dá entre o primeiro e o quarto ano de vida e não na adolescência, antes de estarem expostos ao ambiente familiar e a factores como a violência televisiva.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Processos de Influência Social – A Normalização

Situando-nos ainda no interlúdio da dinâmica de grupos, este artigo vai procurar descrever o contributo de Sherif para o estudo dos processos de influência social, mais especificamente, a normalização. 
As normas são um factor imprescindível na nossa vida, permitindo uma certa estabilidade do meio e uma maior facilidade na aprendizagem de comportamentos. Por outro lado, sem as normas a relação interpessoal seria dificultada, ou seja, não conseguiríamos descodificar, nem prever o comportamento das pessoas com quem estabelecêssemos uma interacção. Para Sherif (1969) as normas são “uma escala de referências ou avaliações que define a gama de comportamentos, atitudes e opiniões permitidas e repreensíveis”.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

The Gods Must Be Crazy

        Esta comédia excepcional reproduz uma intersecção problemática de culturas absolutamente distintas nos seus hábitos, comportamentos, práticas, crenças e valores. Parece que o filme desenha uma colisão cultural, registando-se simultaneamente a aprendizagem e absorção de novos costumes e elementos culturais.  
A cultura específica assume-me como rainha, pelo que é a sua influência, vasta e poderosa que guia e orienta as diversas condutas do ser humano, nas mais variadas situações, assim como, no modo, como cada um vislumbra e interpreta o mundo que o envolve, atribuindo-lhe significados peculiares mediante as suas convicções, perspectivas, esquemas cognitivos perfilhados pela realidade cultural.
O filme desenha um autêntico mundo de relatividade cultural, onde cada cultura marcada por modelos padronizados de comportamento e o seu sentido deve ser compreendida à luz de um determinado enquadramento geográfico e temporal.