Em determinado ponto, o pensamento atinge um
estado de equilíbrio que, simultaneamente móvel e permanente, é de tal forma
que a estrutura das totalidades operatórias se conserva quando estas assimilam
elementos novos. Em termos psicológicos, explicar a inteligência consiste em
descrever-lhe o desenvolvimento mostrando de que maneira este termina
necessariamente no equilíbrio atrás referido. Deste ponto de vista, o trabalho
da psicologia é comparável ao da embriologia, labor inicialmente descritivo e
que consiste em analisar as fases e os períodos da morfogénese até ao
equilíbrio final, constituído pela morfologia adulta, mas pesquisa que se torna
“causal” mal os fatores que asseguram a passagem de um estádio para o seguinte
são evidenciados. Portanto, a nossa tarefa é clara; trata-se de reconstruir a
génese ou as fases de formação da inteligência até conseguir explicar o nível
operatório final, de que acabámos de descrever as formas de equilíbrio. Em
menos palavras, a explicação da inteligência consiste em colocar as operações
superiores em continuidade com todo o desenvolvimento, sendo este concebido
como uma evolução dirigida por necessidades internas de equilíbrio. Ora, esta
continuidade funcional alia-se muito bem à distinção das estruturas sucessivas.
Como, já o vimos, de início, é possível representar uma hierarquia das
condutas, do reflexo e das perceções globais, como uma extensão progressiva das
distâncias e uma complicação gradual dos trajetos que caracterizam as trocas
entre o organismo (sujeito) e o meio (objetos), cada uma destas dilatações ou
complicações representa então uma nova estrutura, ao mesmo tempo que a sua
sucessão é submetida às necessidades de um equilíbrio que deve ser sempre mais
móvel, em função da complexidade. O equilíbrio operatório realizará essas
condições aquando do ponto máximo das distâncias possíveis (visto que a
inteligência procura abarcar o universo) e da complexidade dos trajetos (posto
que a dedução é capaz dos maiores “desvios”): este equilíbrio deve, por
conseguinte, ser concebido como o termo de uma evolução da qual ainda falta
descrever as etapas.
J. Piaget, La psychologie de l’intelligence, 1947
TAREFA:
Segundo Piaget como se processa o
desenvolvimento intelectual da criança? (Deixa a tua resposta na caixa dos
comentários.)