quinta-feira, 28 de outubro de 2010

OLHAR À DIREITA!

A Srª S., uma mulher inteligente com cerca de sessenta anos, teve uma trombose que lhe afectou a zona posterior do hemisfério cerebral direito. A inteligência e o humor mantiveram-se perfeitamente preservados mas, às vezes, queixava-se que as enfermeiras se tinham esquecido de pôr o café ou a sobremesa no tabuleiro. Quando lhe diziam que o café ou a sobremesa estavam no lado esquerdo ela não parecia compreender e nem olhava para a esquerda. Se virava ligeiramente a cabeça de forma que a sobremesa lhe aparecesse no campo de visão dizia: “Agora está aqui, mas não estava.” Perdeu completamente a noção de “esquerda”, quer em relação ao mundo quer em relação ao seu próprio corpo. Às vezes queixava-se que lhe dão pouca comida porque só come o que está do lado direito do prato e nem lhe ocorre que o prato também tem um lado esquerdo. Às vezes maquilha o lado direito do rosto deixando o lado esquerdo sem nada.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Clonagem & “O que virá de bom e pior” – Análise do Filme “Godsend”

O mundo do qual emerge as formas biológicas mais complexas, até agora somente e unicamente conhecidas, é o próprio “canto” em que nós habitamos. Esse tal canto, mais do que porção de terra e água, esconde e suporta aquilo que hoje são dos maiores segredos e incógnitas que a humanidade questiona. A divisão entre o que é correcto e consequentemente que é beneficiável e o que não é correcto, logo sendo assim prejudicial, está a começar a ser plantada e estruturada.
O barco que transporta aquilo que é o berço da nossa origem e o que é hoje o que nós somos, revela mesmo à nossa frente a imagem de uma questão ética sem igual. Algo de certo modo invisível, mas indubitavelmente sustentador de uma moeda de duas faces para o futuro imediato.
Tudo começou há cerca de 3,4 milhões de anos, quando ainda o planeta, imaturamente, ainda se encontrava numa fase de crescimento e de diferenciação. A chuva enegrecida era a rotina de cada dia, pelo que água e somente água formava aquilo a que hoje chamamos Terra. Os oceanos formaram-se, e, nas profundezas de estes mesmos desencadearam-se as primeiras reacções químicas que viriam a formar as primeiras formas de vida, as cianobactérias. Estes simples microrganismos de alguma forma, algo de intrinsecamente genético os percutiu, que através de algum processo teriam que continuar a dar azo à vida que se tinha instaurado. Desta forma surgiu um processo, no qual os gastos de energia eram mínimos em relação ao meio a que se apresentavam. A rapidez também pesou na questão…Tinha-se que assegurar a vida! E BUM… Um produto genuíno, um ser igual ao seu progenitor, tanto a nível físico, como genético… Assim nasceu um clone, assim de certo algo modo nasceu a clonagem reprodutiva…
Tal processo chega-nos até aos dias de hoje, tal como aconteceu há milhares e milhares de anos. A maior parte dos seres vivos como espécies, e principalmente as bactérias, presentearam a sua história evolutiva com base na clonagem… Resultado notório…Calcula-se que milhões e milhões de espécies de bactérias ainda estão por descobrir no seu ser…
Sendo tal questão milenar, qual o porquê de tanto alarido em torno da mesma?
O homem conseguiu transpor as barreiras biológicas. Em 1996, o primeiro mamífero foi clonado: Ian Wilmut e a sua equipa conseguiram “trazer” ao mundo a ovelha Dolly.
A transposição do processo em nada deve ser difícil para a forma de vida “racional”. A tentação de abrir a caixa de Pandora é grande. Que perigos ou benefícios esconderá?
O cerne da questão baseia-se de todo numa experiência mental que nós próprios teremos que ter capacidade de a construir. Tal como o filme, “Godsend” nos leva a outro mundo subconsciente onde este método é dado como possível…
Imagine-se então uma sociedade futurista… Uma civilização em que os casais têm o livre direito de optar pelo processo de clonagem reprodutiva, quer por opção, quer por motivos alheios. Infelizmente nesta concepção, nesta sociedade imaginada, os casais sofrem de uma grande taxa de infertilidade muitos perderam os seus filhos quando ainda eram pequenos. Igualmente, animais que outrora eram dados como extintos, têm a possibilidade de voltar á vida…
Sem dúvida alguma que aqueles casais que por motivos de infertilidade puderam obter um filho genética e fisicamente igual a um deles ou a outro indivíduo, trouxe um bem próprio e de certa forma geral. Um sonho tornado realidade, o filho tão querido, surge à vida. Genericamente se fossemos protectores da ideia de que o que interessa no bem da humanidade é o bem-estar das pessoas, sem dúvidas teríamos que dar esta prática como aceite. Contudo temos que olhar para o outro lado humano: estes seres, nesta fisionomia também eram rejeitados e maltratados por um conjunto de pessoas que os achavam algo de inferior. Desta maneira, muitos destes clones, foram alvo de violência e exclusão, muitos perderam a vida devido à euforia de indivíduos extremistas. Parte da mensagem que o filme nos quer transmitir, já que ao longo do mesmo há um medo notoriamente descrito pelos pais, de o seu filho, Adam, ser dado como a sua verdadeira identidade, e consequentemente que seja alvo deste tratamento.
Nestas condições a clonagem, sem dúvida alguma, não poderia ser dada como algo virtuoso, já que haveria seres, tal e qual como nós, com os mais diversos sentimentos, emoções, memória, entre outros, que iriam estar constantemente a ser alvo de atrocidades e maus tratos… Muitos sofreriam sem causa justificável alguma…
Outro inconveniente, pode perfeitamente passar no sentido de que os indivíduos que criaram um ser genética e fisicamente iguais a si nesta sociedade, não suportem ao fim de x anos alguém que possivelmente até nos gostos e crenças eram idênticas a si mesmo. Iriam então surgir sem dúvida alguma, maus tratos em massa… Os abandonos começariam a ser algo normal neste grupo. Os clones passaram a ser brinquedos…Será tal situação eticamente correcta?
Centrando-nos mais objectivamente no caso que nos é apresentado no filme, podemos observar consequências tais e quais como as apresentadas anteriormente, porventura mais questões se podem levantar, respectivamente no foro genético. Imagine-se então, que na nossa experiência mental, na sociedade idealizada, que é possível criar um clone a partir do ADN das células de dois indivíduos que já morreram e que durante a vida deste mesmo clone, este irá reviver e demonstrar os actos e vivências que anteriormente os seus “progenitores” viveram. Tal como já foi referido anteriormente, sem dúvida que a ressuscitação parcial de dois indivíduos iria trazer sem dúvida, uma alegria e bem-estar para as pessoa que o rodeiam, mas também os ditos problemas viriam. Contudo a base do maior problema consistiria nas recordações que este teria da vida anterior: o mal que este cometera, irá fazê-lo igualmente nesta vida, e desta forma, se por exemplo, tal matou uma pessoa na vida anterior, igualmente irá matar nesta nova realidade. Mesmo que seja agora de uma forma inconsciente, matar alguém, seja de que ponto de vista for, é altamente incorrecto. Igualmente porque não pensar, num doutor maluco, o “Doutor X”, que iria recriar figuras do mal, antepassados que mataram milhões e milhões de pessoas e que quase destruíram o mundo. Basta olhar e repensar o que seria Adolf Hitler nesta nova concepção. Em suma indubitavelmente temos a certeza que a recriação do mal, nunca traria um bem geral para a comunidade.
Olhemos por último, para o caso dos animais em vias de extinção, ou mesmo extintos, que puderam voltar à vida. Sem dúvida alguma seria bom reviver ou recuperar algumas espécies, contudo temos que referenciar o factor natureza e ecossistema global. Tudo o que acontece na natureza em nada é por acaso e muitas das extinções ocorrentes, quer a nível natural como por causa humana, foi para restabelecer um sistema em homeostasia. A recuperação destas espécies poderia vir a alterar de forma séria o sistema natural, podendo mesmo levar à sua ruptura. Também podemos pensar novamente no caso do “Doutor X”, em que este deliberadamente decide recria um animal com uma forma de pensar e racionalização superior à nossa, meio animal, meio humano… Possivelmente poderíamos vir a ser dominados por tal organismo…
Concluindo, tudo que escrevi, não passa de uma possível suposição feita na minha mente, do que poderá acontecer se abrirmos a tal dita caixa de Pandora. Tudo ou nada poderá vir a acontecer… A surpresa espera-nos dentro do ovo…

Henrique Aidos nº17 12ºB

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O HOMEM QUE CAIU DA CAMA

Há muito tempo, ainda eu não tinha acabado o curso, uma enfermeira telefonou-me e falou-me de um caso estranho: um jovem tinha dado entrada no hospital naquela manhã. Parecia simpático, normal, e assim esteve todo o dia até há poucos minutos ao acordar. Nessa altura parecia estranho e excitado, nem parecia o mesmo. Tinha caído da cama e estava sentado no chão a vociferar, recusando-se a voltar para a cama. A enfermeira pediu-me para ir até lá e tentar resolver o problema.
Quando cheguei encontrei o paciente sentado no chão ao pé da cama a olhar para uma das suas pernas. No rosto via-se raiva, alarme, espanto e surpresa – principalmente espanto misturado com consternação. Pedi-lhe para voltar para a cama e perguntei-lhe se precisava de ajuda, mas ele pareceu ficar alarmado com a minha sugestão e abanou a cabeça. Sentei-me ao pé dele e fiz-lhe a história clínica sentado no chão. Tinha chegado de manhã para fazer uns testes, não que se sentisse mal, mas os neurologistas achavam que ele tinha uma perna “preguiçosa” (foi exactamente a palavra que usaram) e aconselharam-no a fazer testes. Tinha-se sentido bem todo o dia e adormecera pelo fim da tarde. Quando acordou também se sentia bem, até ao momento em que se mexeu. Foi então que descobriu, como ele próprio disse, que havia na cama “uma perna de outra pessoa” – uma perna humana, uma coisa terrível! A princípio ficou paralisado de espanto e nojo. Nunca lhe tinha acontecido nada assim, nunca havia imaginado nada tão horrível. Tocou na perna com cuidado. Parecia perfeita mas “estranha” e fria. Nessa altura percebera tudo: era uma partida! Uma partida monstruosa e imprópria mas muito original. Estávamos na véspera de Ano Novo e todos celebravam a data. Metade do pessoal tinha bebido demais, voavam gracejos e bombinhas, uma cena de Carnaval. Era óbvio que uma das enfermeiras, com um sentido de humor macabro, se esgueirara até à unidade de dissecação, roubara uma perna e tinha-a posto debaixo dos seus lençóis enquanto ele estava a dormir. Ficou aliviado com esta explicação mas achou que a brincadeira tinha ido longe de mais e atirou aquela coisa da cama abaixo. Mas (e ao contar isto começou a temer e a ficar pálido) quando a atirou da cama abaixo foi arrastado atrás e agora aquilo estava agarrado a ele.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

ÁREAS CEREBRAIS


No século XIX os neurologistas Paul Broca, em França, e Carl Wernicke, na Alemanha, cativaram a atenção do mundo da medicina com os seus estudos de doentes neurológicos com lesões cerebrais. Isoladamente, tanto Broca como Wernicke defendiam que os danos sofridos numa zona do cérebro perfeitamente delimitada era a causa das perturbações da linguagem recém-adquiridas nesses doentes. A perda total ou parcial da linguagem tornou-se conhecida tecnicamente por afasia. As lesões sustentavam Broca e Wernicke, estavam consequentemente a revelar os fundamentos neurais de dois aspectos diferentes da linguagem nos seres normais. As suas teses eram polémicas e não mereceram uma aprovação imediata mas o mundo escutou. Com alguma relutância, e, com muitas emendas, foram sendo um pouco reconhecidas.
DAMÁSIO, ANTÓNIO, O Erro de Descartes – Emoção, Razão e Cérebro Humano, 1995. Lisboa: Círculo de Leitores, p. 36

Iremos estudar nas próximas aulas as consequências de algumas lesões cerebrais. A afasia é uma dessas lesões. Tenta ver o significado de afasia e deixa a tua resposta na caixa dos comentários.

sábado, 9 de outubro de 2010

A AGRESSIVIDADE E A HEREDITARIEDADE

Como o resto da população consiste em indivíduos, cada um tentando maximizar o seu próprio sucesso, a única estratégia que persistirá será aquela que, uma vez desenvolvida, não possa ser superada por nenhum indivíduo divergente.
A fim de aplicar esta ideia à agressão considere o leitor o seguinte caso. Suponha que existem apenas dois tipos de estratégias de luta numa população de uma espécie particular, a estratégia do falcão e a do pombo (os nomes referem-se às metáforas humanas e não têm ligações com os hábitos das aves de onde os nomes são tirados: os pombos, de facto, são aves bastante agressivas). Qualquer indivíduo da nossa população hipotética é classificado como falcão ou como pombo. Os falcões lutam sempre o mais dura e agressivamente que podem, retirando-se só quando seriamente feridos. Os pombos limitam-se a ameaçar de uma maneira convencional, nunca ferindo o outro. Se um falcão lutar com um pombo, o pombo fugirá rapidamente e, assim, não será ferido. Se um falcão lutar contra outro falcão, a luta prosseguirá até que um deles fique seriamente ferido ou morra Se um pombo encontrar outro pombo, ninguém se magoará; ameaçar-se-ão mutuamente durante muito tempo, até que um deles se canse ou decida não importunar mais o outro,, retirando-se. Por enquanto admitimos que não existe nenhuma maneira pela qual o indivíduo possa saber, antecipadamente, se um determinado rival é um falcão ou um pombo. Ele só descobre isso ao lutar com ele e não tem qualquer recordação e lutas passada com outros indivíduos que o guie.

domingo, 3 de outubro de 2010

TEREMOS RAZÕES PARA NOS INQUIETARMOS?

Por que razão nos devemos preocupar com a biotecnologia? Alguns críticos, como o activista Jeremy Rifkin, e muitos ambientalistas europeus, têm-se oposto totalmente às inovações da biotecnologia. Quando se têm em conta os benefícios para a medicina que resultam dos progressos antecipados neste domínio, assim como do aumento da produção e da redução no uso de pesticidas resultantes da biotecnologia agrícola, este tipo de oposição formal torna-se difícil de justificar. A biotecnologia coloca-nos perante um dilema moral muito particular, uma vez que todas as nossas reservas quanto aos progressos nesta área não podem deixar de ter em consideração as suas vantagens potenciais.