sexta-feira, 11 de março de 2011

My Fair Lady

      My Fair Lady é um sublime e irresistível clássico de George Cukor, inspirado na peça Pygmalion de George Bernard Shaw.
     Este belo musical representa a transformação de uma vulgar vendedora de flores, Eliza Doolitle, numa verdadeira duquesa da sociedade londrina, através dos ensinamentos do Professor Higgins. Este processo concretiza-se, num permanente espelho de expectativas e auto-realização de profecias, enfatizando a importância dos estímulos motivacionais, da valorização e enaltecimento das qualidades e competências, para se atingir desenvolvimento e desempenho até a um progressivo estádio de perfeição.   
     Na cena inicial, vislumbra-se o contraste entre a sumptuosidade e a miséria. Eliza, emerge num quadro de pobreza, absolutamente suja, vestida de um modo andrajoso e evidencia um comportamento indisciplinado, com destaque para uma linguagem e pronúncia repugnantes. Mediante essas características, Professor Higgins, respeitado e rico mestre da fonética e do discurso, fica de tal modo escandalizado, sobretudo com os sons limitados e incorrectos da pobre rapariga, vendedora de flores, que apostando com Colonel Pickering, seu amigo, propõe transformá-la, dentro de alguns meses, numa Duquesa, capaz de estar e se comportar de uma forma requintada no Palácio de Buckingham, no Baile de Embaixada. Nessas circunstâncias, Professor Higgins advoga que cada ser dotado de alma, deve ser igualmente portador de um discurso divino e articulado. A língua inglesa, língua de Shakespeare, de Milton funciona como a chave para uma vida digna, criticando a terrível, condenável e ultrajante pronúncia de Eliza.  
     O impacto das suas palavras ecoa no mundo pessoal da pobre rapariga, influencia a sua auto-imagem e surge como elemento motivador de reflexão, aliado a um desejo de mudança comportamental, alimentado desde já nos seus sonhos e fantasias. Em simultâneo, ela nutre expectativas face às palavras e comentários do Professor Higgins.
     O processo de educação revela-se um pouco problemático. Não só dificultado pelos comportamentos depressivos, teimosos, irritantes de Eliza, como também pela arrogância e egoísmo inicial do Professor Higgins. Contudo, a sua tarefa está traçada. Ele deve efectivamente, ensinar Eliza a proferir perfeita e deliciosamente os sons, de modo a poder expressar-se de uma forma gentil, vestir-se com elegância, adoptar posturas e maneiras adequadas de uma senhora de elite, de realeza. Para atingir essa meta, Eliza, deve também corresponder e esforçar-se arduamente, filtrando os seus ensinamentos, desenhando-se um conjunto de expectativas mútuas. Nesse âmbito, Professor Higgins adopta mecanismos e técnicas de fonética bastante inovadoras, complexas e diversificadas, ainda que árduas para Eliza, com o fim de se atingir o aperfeiçoamento linguístico da mesma. As suas dificuldades de ordem pessoal, aliam-se aos sentimentos explosivos de ódio, raiva e frustração, face à arrogância, frieza, e aparente indiferença do Professor Higgins, em relação à sua essência. O professor recorre à disciplina, ao rigor, ao método, proibindo-lhe o consumo de refeições e chocolates, quando esta parece não se esforçar o suficiente, pois o rendimento é reduzido. Todas estas tentativas frustradas de Eliza pronunciar correctamente frases ou poemas, traduzem-se em cansaço, saturação, raiva e nervosismo. Que factores atestam este cenário e estado de espírito de Eliza? Será que as suas competências e qualidades são de tal forma insuficientes para pronunciar com correcção o que lhe é exigido? Ou, provavelmente, falham determinados componentes, como um maior grau de motivação e de confiança por parte do Professor?
     Numa noite, em que reina o cansaço e a frustração, o Professor num tom optimista, transbordando de um entusiasmo peculiar, ao elogiar a grandeza da língua inglesa, lembra a Eliza o seu alvo de conquista, reconhecendo que efectivamente ela será capaz de se expressar majestosamente e tornar-se numa duquesa. Está patente neste cenário uma mudança de posição do Professor. Por outras palavras, este cria fortes expectativas relativamente às qualidades de Eliza, mostrando que acredita nas suas potencialidades/competências, crê que esta irá alcançar aquilo que se propôs conquistar, aquilo que traçou no seu imaginário…Este estímulo motivacional do professor, desenvolveu uma melhor auto-imagem das potencialidades de Eliza, espelhando-se num autêntico desabrochar, num surpreendente desempenho, conseguindo pronunciar correctamente frases que outrora era incapaz. Nesse contexto, os sentimentos de Eliza tornam-se profundos, marcados por uma dimensão afectiva, em relação ao Professor Higgins.
    Na sequência deste progresso, para testá-la antes do objectivo final, (Baile anual da Embaixada), o Professor decide leva-la a um hipódromo, onde desfilam unicamente elementos da alta classe. Vislumbramos cenários magníficos, com belos esplêndidos vestidos, imperando um ambiente praticamente onírico. Neste episódio Eliza emerge vestida de um modo elegante e modesto, parecendo efectivamente uma dama. Ninguém se apercebe da real origem da rapariga, visto que ela se expressa de uma forma bela, correcta e cuidadosa, embora no final tenha sucedido uma pequena falha.
O aperfeiçoamento e os exercícios não findam, prolongando-se até ao Baile, onde figurará a família real. O cenário do baile é mágico, grandioso, como se fosse retirado de um conto de fadas, retratando um mundo idealizado, mundo do sonho, da imaginação. Eliza está nesse universo inefável, soberbo, vestida de um modo encantador, deslumbrante, irradiando pureza e beleza. Ela derrama uma imagem fantástica, impressionando e encantando com a sua pronúncia e modos perfeitos, a família real e outros elementos presentes.
     Obviamente, tratou-se de uma proeza, de um acontecimento vitorioso. Eliza comportou-se como uma princesa. Higgins conseguiu, transformá-la, numa Lady, aflorando essas qualidades que dentro dela já viviam, em forma de sonho, de fábula. Num plano semelhante, enquadra-se a história mitológica do escultor Pigmalião, que se apaixonou pela estátua feminina que produziu. De tanto a desejar e contemplar a sua perfeição foi premiado pela deusa Vénus, que concedeu vida a estátua, casando-se com ela. (Galateia). Este cenário retrata o “efeito de Pigmalião”, demonstrando que o facto de acreditarmos em algo, de criarmos visões positivas sobre determinados aspectos, o facto de empreendermos objectivos desafiadores, em consonância com um forte desejo, motivação e energia, traduz também resultados positivos.
     Contudo, é de salientar que, no fim do baile, Eliza sente-se descontente, magoada, pois, compreende que ela foi apenas um simples objecto de uma experiência. Após discutir com Higgins, ela abandona-o. O professor, na sua ausência, apercebe-se do valor de Eliza, sendo incapaz de viver sem a sua face, sem os seus modos, transparecendo um romantismo e paixão peculiares. Logo, não só o Professor transforma Eliza numa Lady, como também ela, com os seus valores específicos, aliados aos seus comportamentos, à sua inteligência e angelical beleza, transforma o Professor Higgins, deixando este de ser tão insensível, indiferente e egocêntrico…
     Trata-se de um musical, do qual emana inteligência e conhecimento, elementos estes que permitem orientar-se e progredir na vida humana.
     O filme retrata, numa gradação, as transformações operadas, do impossível/sonho à realidade. Demonstra como as expectativas, que são recíprocas, afectam as interacções e relações que estabelecemos uns com os outros, repercutindo-se na auto-estima e auto-imagem, condicionando as condutas que implementamos, os percursos que seguimos… Por outro lado, o musical é revelador do papel fulcral da motivação, dos estímulos, da criação de imagens positivas, confiantes e encorajadoras na nossa vida, seja qual for o empreendimento, seja qual forem as metas e objectivos, influenciando por sua vez a nossa auto-estima. Se cultivarmos sentimentos e pensamentos negativos em relação a uma determinada realidade, atraímos por sua vez, toda a panóplia de problemas e de elementos indesejados, bem como um reduzido nível de rendimento, de sucesso, de desenvolvimento. Se, contrariamente, acreditarmos e desejarmos vivamente algo, em consonância com a produção de sentimentos e pensamentos positivos, então é possível derrubar todos as dificuldades e situações complicadas que surgem… Portanto, um espírito positivo, aliado à confiança e ao entusiasmo, geram por sua vez comportamentos positivos, geram um maior rendimento, uma maior produtividade, um maior desenvolvimento a qualquer nível, produz melhores impressões, permite alcançar sonhos, desejos, avivar as fantasias. É por isso que quando o Professor Higgins adopta uma posição mais confiante, mais motivadora em relação aos ensinamentos de Eliza, ela realmente consegue alcançar o objectivo, expressando-se correctamente, enveredando consequentemente, por uma progressiva e contínua escada de aperfeiçoamento. O resultado traduz-se num profundo enriquecimento a nível de horizontes, ideias, perspectivas, conhecimentos, cultura. Impera a mesma ideia em torno de Pigmaleão: os seus sentimentos em relação à estátua que esculpira eram tão fortes, reais, apaixonados, que a estátua transformou-se numa mulher real, por intermédio de Vénus. Pigmaleão foi meramente norteado por um intenso desejo, por uma intensa motivação, ingredientes importantes para conquistarmos as nossas metas e ideais. 

Viktoriya Lizanets 12º C

1 comentário:

  1. Gostei muitíssimo da reflexão que fizeste em relação a este magnífico musical!

    Parabéns querida Viky!!!

    Marta Valente

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