quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

KRAMER VS. KRAMER

Este drama norte-americano de Robert Benton, inspirado no romance de Avery Corman, reflecte de uma forma tocante e magistral a dor da separação, desenha conflituosas relações familiares, focando essencialmente ligações profundas entre pai e filho.   
    Na cena inicial, emerge Ted Kramer, descontraído mas completamente absorvido pelo seu mundo publicitário de trabalho, dirigindo-se para casa. Este é surpreendido, quando Joanne Kramer, sua esposa, anuncia serenamente, que o vai abandonar, juntamente com o filho, Billy de seis anos. A opção de Joanne denuncia a sua infelicidade com a relação predominante entre ela e Ted, ansiando descobrir os seus próprios interesses e uma posição no mundo. Subentende-se que esta relação primava pelo distanciamento emocional, afectivo, reduzida preocupação e disponibilidade no que toca à esfera familiar, por parte do seu marido, bem como a sua incapacidade de lidar com os sentimentos de Joanne.
    É a partir deste dramático e inesperado quadro, que se projecta a desagregação familiar e as suas consequências e mudanças impregnadas por um lado de sofrimento e por outro lado, de novos afectos.
    Ted é confrontado com um mundo absolutamente diferente. Billy, o filho de Ted e de Joanne, manifesta ao acordar, desorientação relativamente à ausência da mãe. Esta nova relação, partilhada pelo pai e filho, é retratada pelo tumulto e agitação na cozinha, quando Ted tenta preparar ao filho o seu habitual pequeno-almoço. Mas como, o pai está permanentemente mergulhado nas suas actividades profissionais ligadas à publicidade, não estando familiarizado com esta rotina, mostra-se incapaz de realizar esta simples tarefa, expressando comportamentos completamente ridículos. É de salientar, que quando Ted conduz o Billy à escola, nem tem noção do ano que este frequenta. Isto revela o total desconhecimento do mundo do seu filho, em detrimento das ocupações profissionais.
    Ted nutre a expectativa de que a ausência de Joanne é meramente temporária. Contudo, quando recebe uma carta sua, direccionada para o Billy, na qual Joanne apresenta as razões de ter abandonado o filho e o pai, Ted rapidamente compreende que terá que conciliar o seu mundo publicitário com a responsabilidade de educar o filho. Até agora, o mundo familiar nunca interferira na sua dimensão profissional, que nesse período, exigia dele ainda maior grau de dedicação e competência. Em simultâneo, a tutela do filho, exigia dele muito mais que conceder-lhe as condições básicas e conforto. O que representará maior valor e importância para Ted, a partir deste instante?
    É nesta sequência que reina um cenário de irritação, de tristeza, até alguma incompatibilidade, como se predominassem cores frias numa tela, mas progressivamente, as cores tornam-se mais afectivas, dado que se inicia uma etapa completamente nova na vida de Ted e de Billy.
     Assim, numa primeira vertente, vislumbramos como Ted, após as reuniões de trabalho, acompanha o filho, após o seu dia escolar. Passeiam pelo parque e jantam juntos, apesar de Billy não apreciar nem demonstrar qualquer apetite em relação às refeições. Além disso, evidencia uma postura totalmente desadequada, não executando o que o pai ordena. Gera-se desentendimento e incompreensão entre ambos. Billy, sente-se angustiado, chora, expressando ao pai, que o facto de a mãe não estar presente, relaciona-se com o seu comportamento. O pai conforta-o, acarinha-o, explicando-lhe que essa difícil situação, não é da sua responsabilidade, mas sim, devido à sua constante ausência e ocupação no trabalho. É de realçar como o universo psíquico da criança fora afectado, produto do divórcio que se concretizara entre os seus pais. Daí o seu constante estado de aborrecimento, de tristeza, de mágoa, e até um sentimento de culpa, estampados no rosto angelical. Contudo, é a partir destes dolorosos momentos, partilhados entre Ted e Billy que a inicial incompreensível e tediosa relação entre ambos, floresce em algo mais profundo, de maior intimidade, criando-se laços de afectividade.
     O pai abdica progressivamente do tempo do seu trabalho, focando a sua atenção em Billy. Frequenta as suas festas, com destaque para a recitação de Billy no Halloween… Ensina-o a andar de bicicleta… Passeia com ele… Estabelecendo-se entre eles uma relação marcada por uma afectividade peculiar, de onde irradia alegria, felicidade e orgulho. Quando no parque, Billy brinca, despreocupadamente com um avião e Ted conversa com Margaret, sua amiga, o seu filho cai acidentalmente do escorrega e fica magoado. No momento em que Ted corre desesperadamente, em busca de um centro de urgência, sentimos o coração a palpitar, pois trata-se de um momento, que realça a extrema preocupação e o amor que caracterizam Ted no que concerne ao seu filho. No interior do centro médico, à medida, que os golpes são tratados, vislumbramos como Billy grita de dor, soluça, ao mesmo tempo que o pai, ampara-o, acalma-o, como se aquele sofrimento fosse sentido também pelo pai, em que cada grito ressoava e ardia no seu interior.
    Nesta conjuntura, em que pai e filho tornaram-se verdadeiros companheiros, em que o pai começa a compreender o filho, todos os seus medos, preocupações e dúvidas inocentes, em que partilham momentos de alegria singela e pura, Joanne regressa e pretende Billy de volta. Contudo, Ted recusa, peremptoriamente e com extrema revolta o seu pedido. É a partir desta discórdia que se incia a luta pelo filho, através da Justiça.
Ted contrata um advogado, pois de todo o coração anseia ficar com o filho, tendo-se já afeiçoado a ele, à sua presença, aos seus gestos, apesar de reconhecer, que por lei, a criança, teria que permanecer com a figura materna…Contudo, agravando a complexidade da situação, Ted é demitido do seu trabalho. Como precisa de uma soma elevada de dinheiro por causa da actividade do seu advogado, em pouco tempo, consegue, em virtude da sua inteligência e extremo talento, um trabalho igualmente fantástico, de cariz artístico, embora de menor remuneração. Tudo isto demonstra a sua tenacidade e desejo de ficar com o filho, pelo qual luta até ao fim.
     O processo de julgamento,  é marcado por elevada tensão emocional tanto para Joanne como para Ted. Apesar de tudo apontar para o fracasso da relação mais importante/longa na vida de Joanne, e para o seu mesmo fracasso, e embora Ted tenha realmente conseguido ser um excelente modelo para Billy, a tendência é o filho, ficar com a mãe, afigurando-se esta como a melhor opção, dado que a posição da figura paterna não está ainda encimada e enraizada na sociedade. Não obstante isso, Billy terá que escolher entre os dois, teria que testemunhar… Porém, o pai evita a dolorosa situação, o sofrimento indescritível e inconcebível de uma criança tão pequena, tão frágil, emotiva e inocente ter que reflectir, optando, com o qual dos progenitores anseia ficar. Trata-se de uma situação traumática, pois apesar de Billy, amar a mãe no fundo do seu coração, os últimos períodos da sua vida, foram marcados vivamente, pela companhia e presença insubstituíveis do pai, momentos estes, nos quais, juntos conseguiram enfrentaram medos e problemas, pela ligação de amor e carinho, pelo envolvimento afectivo tão subtilmente retratado em toda esta tragédia familiar. É por isso que para Billy, o pai emerge personificado como um herói, metaforicamente denominado como um pilar essencial para o seu desenvolvimento afectivo, social e emocional.
     Apesar de Ted ter alcançado este patamar tão elevado no que toca ao filho, preferiu perdê-lo, do que infligir-lhe sofrimento, tendo este que ficar com a mãe.
     No último dia, antes da separação entre Billy e Ted, as cenas são intensamente dramáticas e comoventes. O modo perfeito, como cozinham aquele incomparável pequeno-almoço, impregnado por um ambiente de placidez, de silêncio pungente, salienta que as dificuldades foram ultrapassadas, neste espaço de tempo, alicerçado pela convivência, pela partilha e pelo amor, em detrimento, do caos e de uma atmosfera tumultuosa, que vislumbramos numa das primeiras cenas.
     O quadro final do filme, explora o mundo psicológico de Billy, quando este interroga o pai, como iria adormecer sem as suas histórias, sem o seu beijo de boa noite, mesmo tendo noção que regressa para o calor e amor materno… Esta simples reflexão, dúvida que Billy expressa, denota o modo como se tinha apegado, afeiçoado ao seu pai. É um momento que retrata e comprova como o pai, tornara-se inigualável, essencial, sem o qual a sua existência será difícil e meramente inimaginável. É esta a questão chave tão peculiar, espelhada no filme, em que é o forte amor pelo pai que brilha, que arde no coração da criança.
     Perante uma situação que parecia determinada, o cenário inverte-se… Intuitivamente, compreendemos que Joanne reflectiu sobre os últimos acontecimentos e decidiu que a melhor opção para Billy seria Ted…
     O argumento do filme retrata de um modo tocante os efeitos resultantes do divórcio, bem como a problemática que se gera em torno da criança, sendo disputada por ambos. Estas consequências repercutem-se, na modificação de estilo de vida de ambos os indivíduos, (Ted/Joanne) que necessitam de se adaptar em consonância com novas realidades. É de realçar, o papel e importância da figura paterna, que surge, como a depositária do bem-estar, bem como de sentimentos de afecto, ao seu filho, em oposição à figura materna.
     É também explorado, o impacto que a destruição familiar e seus valores associados, produz no mundo da criança, (Billy) vítima da separação entre os pais, gerando dor, mágoa, desapontamento, sofrimento e tédio. Contudo, é extraordinário e tocante o modo como a criança se relaciona, e vincula progressivamente com o pai, numa manifestação silenciosa de amor e ternura infinitas, tornando-o inigualável. 

Viktoriya Lizanets 12º C

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